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Aquilo que eu sou

Se quiserem saber quem sou
—Não sei quem sou.

CARLOS NEJAR

Um projecto de existência
consubstancial ao pó,
um impulso instintivo,
um ríctus fundamental
de hesitação.
 
No limiar rarefeito
da minha caminhada,
um homem só,
o mais efémero,
como no dizer de Rilke.
 
Embora seja oclusivo
ea descida forçosa,
preciso é pesquisar
a origem para despir
o próprio ser.
 
A tarefa é portanto
desmascarar o mundo
e suas lacras.
Redimir mesmo nos seres
sua consciência esquecida.
 
Proceder ao inventário
da humana condição,
quer dizer, rodopiar
a linguagem dos conceitos,
pura metamorfose.
 
Ou melhor: redescobrir
as relações enigmáticas
do simples acto de existir
no exacto do facto
para lá dos parâmetros comuns.
 
Daí que isto pareça obscuro
aqueles que não sabem ler.
A simbiose dos relógios
numa história em mudança
que apodrece o trajecto.
 
Porque em verdade acontece
que as coisas nao sao mudas;
as coisas falam;
têm sua própria voz:
a da epiderme das pedras.
 
O homem só reflecte a assonância
das palavras cunhadas pelas coisas,
onde as formas se confundem
com as vivencias dos viventes
nos traços de um labirinto.
 
A palavra sòmente
propõe e dimensiona
as sílabas que vou pondo
naquela classe de livro
tão obsessivamente laborado.
 
A reinvenção do homem
sem salvação apenas.
Se o mundo é quase um caos,
vão manter—se as dirimências
entre o homem e o mundo?
 
Empenhar—se no esforço
de restaurar os sonhos,
é a teoria das espécies,
o contrato intuitivo
entre o homem e o mundo?
 
Um louco a procurar
as razões da vida,
mesmo da inútil criação,
mais seus deuses possíveis,
isso é o que eu sou.

#EscritoresEspañoles (1988) Lembranças deslembranças e

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