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Endecha Sem Graça

Não há plenitude,
Não há colorido,
Não há alarido,
Não há transbordar
Sem ti.
 
Não há alaúde
Que cante uma trova
Pompeada, gloriosa,
Pois não há cantar
Sem ti.
 
É falto o sentido,
É mirrado, vazio,
São cantos sem brio,
Silêncios tãos frios
Sem ti.
 
É reles, tão vão
Que a quérula mão,
Qual mão de escrivão,
Desgosta a função
Sem ti.
 
Eis que há um bastião:
Respiro ainda a arte,
Desfruo a família,
Conservo uma base
Sem ti.
 
Exalo ainda vida
Pulsando esfuziante.
Pulula a alegria,
Pulula de tudo
Sem ti.
 
Sem ti por amante,
Eu sou ainda uno,
Eu sou ainda inteiro,
Que vibra este peito
Sem ti.
 
Eu sou inconsútil.
E libo ainda à arte,
Que é meu baluarte;
Não passa a ser fútil
Sem ti.
 
Assim, não se aterre,
Tampouco se aflija
Co' endecha tão breve,
Que brota a alegria
Sem ti.
 
Exalo ainda vida,
Pulsando constante;
Mantém-se o andante.
Germina de tudo
Mas tudo!
 
É assim, moderado,
É assim, esvaziado,
É assim, esgazeado,
É assim, acanhado,
Sem ti.
 
Não é incendido,
Não é desmedido,
Não é efervescente ou
Estupefaciente
Sem ti!
 
É um paço em desdouro,
Um vergel num descor
É um beijo sem gosto
Assim, sem ardor,
Sem ti!
 
Mavioso e sem graça;
Bonança sem brisa,
Borrasca sem raiva,
Horizonte sem visa e
Sem ti!
 
Sofreado e saudável,
Beira o imperturbável.
Por ti arqueja o pior,
Só aflora o melhor
Sem ti!
 
Bem sei que o alaúde
‘Inda logra vibrar;
Bem sei, é melhor,
Mas ai! tão pior!
Porque
 
Não há plenitude,
Não há transbordar,
Não há maravilha,
Não há ataraxia
Sem ti. Como eu gosto!
De ti.

03.01.17

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