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Sonho sobre a Figura Masculina

Ai,
 
Pressaga, tua volta sentiu como o lar.
Pude guardar teus traços, lembrar teu abraço, retratar teu cheiro.
Pude tocar teus dedos, palpar tua pele enrugada, repousar em teu peito,
Em teu enleio sem par.
 
Ai,
 
Pude afagar teus cabelos brancos
Perdeste tantos desde aquele tempo, tem tantos anos!
Porém, guardas os mesmos trejeitos. Os mesmos ombros, o mesmo queixo,
E os olhos anchos.
 
Ai,
 
Pudeste provocar-me, debochado, e trouxe um rancor enterrado,
Portou feiçes de um outro, mostrou um riso de escárnio.
Por isso te culpo, e também perdôo. Sabes que a mim és difuso, confuso, obtuso,
Amalgamado.
 
E agora, ai, breve, te vais.
E não posso, nem quero, pedir-te que não. Peço mais:
 
Antes de ir, não me apertes a mão.
Não me abraces nenhuma vez, não sorrias os teus queridos dentes.
O teu aceno dolente às minhas costas já basta. Já me escorre as lágrimas, já me talha.
Dolente pois sabes que não vejo. Ai, eu não posso ver o teu aceno.
Se eu ver, eu vou esfarelar na tua frente. Mãe entende; amamos ambos dos homens o mesmo.
Ai, não.
Se hás de ir, vai direito, sem pranto de joelhos, ainda sabendo que choro, vai me vendo erguido.
Mas, ao ouvir tuas despedidas, sobe-me à boca o guincho e liberta-se sozinho. Caio de joelhos, pois meu peito é peso pedra, o céu se rasga e eu vomito a terra!
Pudesse eu pedir-te “Para! Permanece! Pousa! Pesa! Pisa! Pertence! Preenche! Pereniza! Perpetua! Pulsa! Pulula!”, Ai!
Parte, vai de uma vez, e não me vê fundido ao chão,
 
Pai.

11/08/18

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